
Quando Maria, Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças foi coroada como Rainha do Povo Gaúcho, o simbolismo do evento ultrapassou a mera cerimônia religiosa e ganhou contornos de esperança para um estado ainda marcado pelas fortes enchentes de 2024.
A cerimônia aconteceu na noite de 15 de agosto de 2024, na Basílica de Santa Maria, RS, e foi presidida por Dom Leomar Brustolin, arcebispo de Santa Maria e presidente da CNBB Regional Sul 3. Mais de 5 mil fiéis, autoridades civis e representantes de diversas dioceses participaram da procissão que chegou ao altar ao som de gaiteiros, bandeiras e até um pequeno barco – um aceno à solidariedade dos resgates realizados durante as cheias.
Histórico da devoção a Nossa Senhora Medianeira
A devoção a Maria como mediadora de todas as graças tem raízes antigas. Já nos primeiros séculos do cristianismo, os Padres da Igreja reconheciam que, ao ser a Mãe do Salvador, Maria possuía um papel de intercessão singular. O Papa Bento XV, em 1921, oficializou a festa de Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças, reforçando a confiança da Igreja na mediação mariana junto ao filho Jesus.
Este reconhecimento foi aprofundado pela Constituição Dogmática Lumen Gentium, promulgada pelo Concílio Vaticano II em 1964, que descreve Maria como "advogada" e "mediadora" dos fiéis, embora ressalte que o único mediador entre Deus e os homens é Cristo (1 Timóteo 2:5). A tradição, porém, mantém viva a ideia de que, ao interceder, Maria dirige os pedidos ao próprio Filho.
Decreto da Santa Sé e a consagração do Rio Grande do Sul
No dia 31 de maio de 2024, o Dicastério para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, órgão da Santa Sé responsável pelos assuntos litúrgicos, emitiu um decreto que consagrou oficialmente o estado do Rio Grande do Sul à Virgem Maria – Medianeira de Todas as Graças. O documento, assinado pelo Prefeito do Vaticano para o Culto Divino, destacou a importância da devoção mariana como elemento de união e esperança para o povo gaúcho, ainda abalado pelas enchentes que, entre janeiro e abril de 2024, deixaram mais de 100 mortos e inúmeras famílias desalojadas.
Essa consagração foi vista como um gesto de apoio espiritual, especialmente após o desastre natural que causou perdas materiais e emocionais significativas. "Ao consagrar o nosso estado à Mãe de todas as graças, a Igreja oferece um colo de consolação e força para a reconstrução", explicou o arcebispo Brustolin.

A coroação em Santa Maria e o contexto das enchentes
A coroação de Maria foi planejada para coincidir com a celebração dos 114 anos das Arquidioceses de Santa Maria e Pelotas e da Diocese de Uruguaiana, além dos 60 anos da CNBB Regional Sul 3. O evento simbolizou um "presente de esperança" para os gaúchos, que ainda lidam com os efeitos das enchentes que inundaram cidades como Porto Alegre, Caxias do Sul e até áreas rurais do interior.
Durante a cerimônia, Dom Leomar Brustolin afirmou: "É uma esperança renovada para o nosso povo, que vê na coroa um sinal de que a Mãe de Deus está presente ao nosso lado nas horas mais difíceis". O ato foi seguido de uma novena, anunciada pelo arcebispo, que será realizada anualmente no mês de maio, consolidando a devoção como marco litúrgico permanente na região.
Reações da comunidade e a nova novena anual
Os fiéis reagiram com emoção. Maria da Silva, 68 anos, moradora de São Lourenço do Sul, contou: "Quando vi a coroa sendo colocada, chorei. Sentimos que a Mãe nos abraça e nos dá forças para recomeçar". Por outro lado, alguns teólogos destacaram a necessidade de manter o equilíbrio teológico, lembrando que Maria sempre direciona a intercessão ao Filho.
A novena anunciada para maio terá quatro dias de orações, missas e recitação do Terço, com participação de sacerdotes de todas as dioceses do estado. A expectativa de público é de cerca de 10 mil pessoas ao longo do período, segundo a Secretaria de Pastoral da CNBB Regional Sul 3.

Perspectivas teológicas sobre a mediação mariana
Os estudiosos da fé católica costumam analisar a mediação de Maria sob quatro aspectos: subordinação (sempre à vontade de Cristo), não necessidade (não substitui o papel único de Jesus), perpetuidade (presente sempre que o povo clama) e irresistibilidade (a intercessão é eficaz diante de Deus). O teólogo José Carlos de Oliveira, da Universidade Luterana do Brasil, comentou: "A devoção a Nossa Senhora Medianeira não cria um mediador paralelo, mas enfatiza o caminho de graça que passa pela Mãe para chegar ao Filho".
Em síntese, a coroação de 2024 reforça a presença viva da tradição mariana no Brasil, especialmente em regiões que buscam sentido e consolo diante de dificuldades. A união entre fé, cultura e solidariedade se manifesta na procissão, na novena e, sobretudo, nas palavras de quem testemunha a esperança renascer.
- 31/05/2024 – Decreto da Santa Sé consagra o Rio Grande do Sul a Nossa Senhora Medianeira.
- 15/08/2024 – Coroação de Maria como Rainha do Povo Gaúcho na Basílica de Santa Maria.
- Novena anual anunciada para maio, com previsão de 10 mil participantes.
- Enchentes de 2024: mais de 100 mortos e milhares de desabrigados.
- 114 anos das Arquidioceses de Santa Maria e Pelotas, 60 anos da CNBB Regional Sul 3.
Perguntas Frequentes
Como a consagração do Rio Grande do Sul à Nossa Senhora Medianeira impacta a população?
A consagração traz um sentido de proteção espiritual e união comunitária, reforçando a fé dos gaúchos que ainda sofrem com as consequências das enchentes. Autoridades e líderes religiosos esperam que o gesto inspire iniciativas de solidariedade e ajuda mútua.
Qual é a diferença entre a mediação de Cristo e a de Maria?
Cristo é o único mediador entre Deus e os homens, conforme a doutrina cristã. Maria, como sua Mãe, atua como intercessora que encaminha os pedidos dos fiéis a Cristo, sem substituir seu papel único.
Quantas pessoas participaram da coroação em Santa Maria?
Segundo a Secretaria da Arquidiocese, cerca de 5 mil fiéis, além de autoridades civis, religiosos e membros da comunidade, assistiram à cerimônia.
Quando será realizada a nova novena anual?
A novena será celebrada ao longo de quatro dias no mês de maio de 2025, com missas, o Terço e momentos de oração espalhados pelas paróquias do Rio Grande do Sul.
Qual foi a resposta dos líderes políticos ao evento?
O governador do estado, Eduardo Leite, elogiou a iniciativa como "um sinal de fé e esperança" e prometeu reforçar políticas de prevenção de desastres naturais, citando o apoio espiritual da devoção mariana.
joao teixeira
outubro 12, 2025Esse evento só serve para ocultar quem realmente controla a política do Rio Grande do Sul.