
Band encosta no zero enquanto a Globo dispara
A quinta-feira, 4 de setembro de 2025, foi dura para a Band. Uma sequência de atrações quase encostou no zero na medição do Ibope, num dia em que a Globo sobrou. No mesmo intervalo, a líder de audiência empilhou números sólidos no horário nobre: Dona de Mim marcou 21,9 pontos, o Jornal Nacional anotou 23,7 e Vale Tudo foi o pico da noite com 25,7 pontos. A noite ainda teve o empurrão do noticiário esportivo por causa das Eliminatórias da Copa do Mundo, o que tradicionalmente concentra olhares na TV aberta e aperta a concorrência.
O contraste foi gritante. Enquanto a Globo manteve ritmo de clássico em horário nobre, a Band oscilou para baixo em uma faixa em que, em dias normais, busca ao menos um dígito fracionado para se manter no páreo. O quase zero não é comum em praças como São Paulo e Rio em horários comerciais, e acende alerta: há algo na combinação de grade, conteúdo e concorrência que não está funcionando.
Quando uma rede encosta no zero, o problema raramente é só de um programa. É efeito dominó. Uma atração fraca entrega mal para a seguinte, derruba a permanência e faz o público migrar para quem oferece narrativa contínua e forte. Com a Globo em alta, as janelas de fuga ficam menores. Quem perde a primeira batalha — a escolha do canal — costuma perder a noite inteira.

O que explica o tombo da Band e como ler os números
Ponto de audiência é a moeda do jogo. Em termos simples, 1 ponto equivale a cerca de 1% dos domicílios com TV ligados na praça medida, como a Grande São Paulo. Não é perfeito, mas é o padrão do mercado. Num dia de futebol ou de grandes novelas, o bolo cresce para a líder, e as demais redes disputam migalhas. Foi esse o cenário da quinta-feira.
No caso da Band, alguns fatores pesam juntos: a concorrência direta com produtos de apelo massivo, a fragilidade de algumas faixas da grade e a dificuldade de reter o público entre blocos e intervalos longos. Quando o público está muito engajado com um noticiário forte seguido de novela quente, a troca de canal cai. A noite da Globo entregou justamente isso: jornal com alto interesse, novela com fôlego e um título clássico que vem surfando a nostalgia com números altos.
A Band, historicamente, se apoia em notícias e esportes para tracionar o horário nobre e o final da tarde. Quando não há eventos ao vivo ou realities culinários em horário estratégico, a rede sente mais. A força do futebol também reorganiza hábitos: quem começa no pré-jogo e no pós-jogo tende a ficar onde a conversa continua, seja em jornal, seja em novela. Nessa quinta, o efeito bola pesou.
Outro ponto pouco visível, mas decisivo, é a “entrega”. Se um programa entrega audiência baixa para o seguinte, a chance de reação despenca. Isso machuca especialmente atrações de custo médio, que dependem de um patamar mínimo para justificar a compra de mídia dos anunciantes. E sim, intervalos longos e mal distribuídos aceleram a fuga — basta um break mal colocado para o público voltar à líder.
Em receitas, o impacto é direto. Menos audiência significa menos inventário qualificado. Um dia ruim não derruba um mês, mas várias noites fracas forçam renegociação de pacotes, aumentam a dependência de bonificações e reduzem o CPM médio. As marcas que compram alcance imediato correm para quem está liderando; quem permanece busca preço. É um círculo que exige reação rápida.
Há também o contexto mais amplo. A disputa não é apenas entre TV aberta. Streaming e redes sociais fragmentam a atenção, principalmente nos intervalos. Para a TV, isso virou faca de dois gumes: quando a trama é boa, a retenção dispara; quando o conteúdo cansa, o público escapa para o celular em segundos. O canal que não oferece continuidade — o famoso “gancho” entre atrações — perde relevância.
O desempenho da Globo na noite ajuda a explicar o resto. Dona de Mim sustentou a prévia do noticiário, o Jornal Nacional ampliou o alcance e Vale Tudo, em alta, fechou a torneira das alternativas. Em noites assim, Record e SBT normalmente se protegem com formatos de base fiel e ajustes de grade. Sem um evento de peso para chamar de seu, a Band fica sem tração e vê o ponteiro minguar.
O que fazer? O caminho passa por três frentes. Ajuste fino de grade para evitar choques frontais em horários críticos; produtos com vocação de retenção, que mantenham o público colado entre blocos; e uso inteligente de janelas esportivas e jornalísticas para criar “corredores” de audiência. O espectador precisa de motivo claro para não mudar de canal — e esse motivo tem que aparecer rápido.
Vale lembrar: quase zerar não define um canal, mas expõe a fragilidade de uma faixa. A Band tem ilhas de força, especialmente em esportes e jornalismo, e já provou que consegue reagir quando alinha conteúdo e horário. O desafio é transformar ilhas em corredor contínuo, principalmente nas noites em que a líder estoura a boca do balão.
Por fim, a régua do sucesso continua simples: relevância, hábito e regularidade. Em um dia dominado por futebol e novelas quentes, a Band ficou sem as três ao mesmo tempo. O mercado observa, ajusta, e a próxima grade dirá se foi tropeço isolado ou sinal de alerta mais sério.